O que emoções como desdém, ódio, ansiedade, vergonha e arrependimento têm em comum?
De acordo com David Hawkins, estas podem estar nos matando.
Não é nenhum segredo que nossas emoções desempenham um papel significativo em nossa saúde mental e física. Mas Hawkins, um psiquiatra e palestrante, teoriza que o que sentimos diariamente é uma questão de vida ou morte – pelo menos a nível celular.
A teoria de Hawkins é baseada em sua recente descoberta que todas as emoções possuem uma quantidade específica de energia. Embora Hawkins acredite que emoções com níveis mais baixos de energia, como ansiedade e vergonha, contribuem para a morte celular, estados de espírito mais positivos, como paz, alegria, amor e razão, podem realmente nos tornar mais saudáveis.
Por mais poderosas que nossas emoções possam ser, a boa notícia é que não somos vítimas dos sentimentos que afetam nossas vidas negativamente. Pesquisas sobre a neuroplasticidade demonstram que o cérebro humano é perfeitamente capaz de se reorganizar.
Mas por onde devemos começar? Como podemos controlar nossas emoções – e até mesmo usá-las para nos tornarmos líderes e mentes criativas mais fortes?
Aprender como gerenciar nossas emoções começa com um entendimento básico acerca do cérebro humano.
A ciência das nossas emoções
Nossos cérebros são compostos por duas estruturas principais.
O sistema límbico controla nossas emoções e respostas comportamentais, acionando uma resposta do sistema nervoso simpático quando estamos sob pressão. Este é parte da reação “bater ou correr”, a qual representa uma forma instintiva e psicológica de proteção do nosso cérebro ao sentir que estamos em perigo.
Já se sentiu nervoso antes de uma apresentação? Culpe seu sistema límbico pelas mãos suadas e frio na barriga. Já foi fechado por um motorista irresponsável na rodovia? Suas bochechas esquentam e seu coração acelera porque seu sistema límbico percebeu algum tipo de ameaça. Em resumo, o sistema límbico nos ajuda a sobreviver.
O córtex pré-frontal, por outro lado, é bem mais evoluído. Se alguém já te disse para “usar sua cabeça”, este provavelmente estava se referindo ao córtex pré-frontal, a parte consciente do cérebro que nos permite raciocinar, resistir à tentação e vivenciar o significado de nossas emoções.
Embora o sistema límbico seja responsável por nos manter vivos, podem surgir problemas quando este permanece no comando por muito tempo:
Quando as pessoas estão dominadas pelo medo, ansiedade ou depressão, ou estresse crônico, elas são incapazes de fazer avaliações realistas das situações”, escreve Dave Gray, autor e coach de pensamento visual. “O córtex pré-frontal fica ‘offline’. O pensamento criativo, a inovação, na verdade, todas as funções cerebrais de nível superior são reprimidas.
Então, como encontramos o equilíbrio mental?
Se o sistema límbico é o acelerador do cérebro, o córtex pré-frontal é como os freios – ajudando-nos a desacelerar, avaliar a situação e responder às nossas emoções de forma adequada.
Aprender como pisar no freio é a premissa da regulação emocional, ou a habilidade de controlar como respondemos aos nossos próprios sentimentos – e um passo importante em direção ao nosso crescimento e bem-estar.
A arte da agilidade emocional
Ninguém nasce com a capacidade de se autorregular. Observamos isso em bebês que não conseguem adormecer sem serem embalados e crianças pequenas fazendo birra na fila do caixa do supermercado. As crianças se comunicam através de suas emoções.
Quando atingimos a idade escolar, a maioria de nós já aprendeu como moderar nossas respostas emocionais a situações difíceis, seja através do pensamento positivo ou da distração.
Aprendemos que podemos controlar nossas emoções, e que elas não nos controlam – um aspecto crítico do nosso bem-estar. Na verdade, a regulação emocional é uma parte vital do amadurecimento social e um pilar importante da saúde mental.
Mas existe uma diferença entre simplesmente superar nossas emoções e efetivamente gerenciá-las. Enquanto a regulação emocional se concentra na prevenção de uma resposta negativa, o gerenciamento emocional pode nos ajudar a usar nossas emoções para o crescimento pessoal e profissional.
A psicóloga e professora da Harvard Medical School Susan David chama a prática de gerenciar nossas emoções através do envolvimento consciente com as mesmas de “agilidade emocional”:
“Enquanto o pensamento positivo e a evasão superestimam o papel de nossos pensamentos, a agilidade emocional é um conjunto de habilidades baseado em nossa capacidade de encarar nossas emoções, rotulá-las, compreendê-las e, depois disso, escolher seguir em frente de forma deliberada”, escreve David.
É a habilidade de reconhecer quando você está se sentindo estressado, ser capaz de pôr esse estresse de lado e, então, decidir como agir de forma compatível com seus valores pessoais e alinhada com seus objetivos.
Se a regulação emocional é uma ciência, então a agilidade emocional é uma arte.
Com a capacidade de abraçar e dominar estrategicamente nossas emoções, podemos crescer em nossas habilidades criativas, comunicativas e de liderança. Como escreve o cientista social e autor Joseph Grenny:
“A capacidade de reconhecer, dominar e moldar suas próprias emoções é a principal habilidade necessária para aprofundar a intimidade com os entes queridos, ampliar a influência no local de trabalho e expandir nossa capacidade de transformar ideias em resultados.”
Como praticar sua agilidade emocional
1. Não se esconda de suas emoções
Construir uma startup é algo inerentemente emocional.
Entre a decepção ocasional do crescimento lento, a frustração de um bug em nosso software ou até mesmo uma simples falha de comunicação no escritório, minha tendência é, frequentemente, seguir em frente, sempre com um sorriso no rosto. Há coisas maiores com que se preocupar e quero que minha equipe me veja como uma pessoa positiva e resiliente.
Não é isso que os bons líderes fazem?
Embora manter a calma frente às adversidades faça parte da gestão de uma equipe, esta não é necessariamente a melhor maneira de gerenciar suas emoções. Na verdade, já foi comprovado que posso estar prestando um desserviço a mim mesmo ao sorrir quando meu pulso está acelerado abaixo da superfície.
Ocultar suas emoções possui um impacto igualmente perigoso: quando evitamos ou entorpecemos o que sentimos, nossas emoções geralmente voltam ainda mais fortes. Um estudo mostra que fumantes que ativamente tentaram não pensar em cigarros acabaram sonhando com eles, o que os levou a fumar ainda mais.
Enumerar nossas emoções pode afetar negativamente nosso comportamento, e mais importante, também pode limitar nosso potencial. Para nos tornarmos verdadeiramente resilientes, primeiro temos que vivenciar nossas emoções. Temos que nos permitir sentir coisas difíceis e experimentar as provações da vida para nos tornarmos mais fortes e sábios.
Embora seja tentador escapar de emoções desconfortáveis rapidamente seguindo em frente, distraindo-nos ou fingindo positividade, escolher mergulhar de cabeça e senti-las pode nos fortalecer e expandir:
A menos que possamos processar, navegar e estar confortáveis com toda a nossa gama de emoções, não aprenderemos a ser resilientes”, escreve David. “Precisamos ter alguma prática para lidar com essas emoções ou seremos pegos desprevenidos. Acredito que o forte foco cultural na felicidade e no pensamento positivo está, na verdade, nos tornando menos resilientes.
Esconder nossas emoções também nos desconecta de nós mesmos. Sentimentos difíceis refletem o que mais nos preocupa na vida, pois “emoções como tristeza, culpa, pesar e raiva representam os pilares de nossos valores”, afirma David. Por exemplo, se você se sente frustrado quando um colega chega atrasado para uma reunião, provavelmente valoriza o respeito e a pontualidade.
2. Conte uma nova história
Embora seguir para a próxima reunião ou e-mail durante um momento de raiva ou decepção pareça ser a resposta mais simples, pode ser mais benéfico repensar a forma como nos sentimos – desafiar a história que nossas emoções estão nos contando.
Quando percebemos nossas emoções como “negativas”, uma tentativa de fuga está inevitavelmente próxima. Mas repensar a forma como nos sentimos nos ajuda a desafiar e assumir a propriedade de nossas emoções.
Abaixo da superfície de cada sentimento, há uma história. Pense nisso: ao receber uma crítica dura e indesejada, você provavelmente fica frustrado com a falta de tato de seu colega de trabalho, mas examine mais profundamente e provavelmente perceberá que se sente ameaçado por estes comentários porque você mesmo se pergunta se realmente é incompetente.
Frequentemente, essas histórias representam crenças centrais que criaram raízes num passado distante.
Para gerenciar emoções que emergem no calor do momento, Joseph Grenny recomenda explorar sua “história primordial”. Por exemplo, se você se sente envergonhado quando um colega o critica, experimente rastrear o sentimento ou experiência de origem.
Quando foi a primeira vez que você sentiu vergonha de si mesmo?
Enquanto tivermos essas “histórias primordiais” como verdades, Grenny diz que estamos condenados a ser vítimas de nossas emoções, o que nos deixa fora de controle.
Mas entender sua história de origem é o primeiro passo para desafiar a emoção gerada a partir da mesma:
Tomei consciência da origem primordial das histórias que conto – e aprendi a desafiar a percepção de que minha segurança e meu valor estão em risco nesses momentos”, escreve Grenny.
3. Desenvolva seu vocabulário emocional
Administrar nossas emoções também significa simplesmente identificá-las. Uma grande emoção não denominada pode parecer opressora e interminável. Nomear nossas emoções nos dá forças para sermos realistas sobre seu impacto e buscar uma solução.
A psicóloga Lisa Feldman Barrett afirma que interpretar mal nossas emoções pode nos fazer responder de forma inadequada – e isso pode acontecer facilmente, uma vez que muitas sensações emocionais se apresentam de forma semelhante.
Em vez de se descrever como triste, algo tão vago, experimente rotular sua emoção como “desanimado” ou “decepcionado”.
Feldman Barrett se refere a essa especificidade como “granularidade emocional”, a qual pode nos ajudar a entender nossas circunstâncias de forma mais aprofundada ou reestruturar emoções negativas para torná-las menos ameaçadoras. Por exemplo, perceber que você está decepcionado com a reação de um investidor à sua apresentação provavelmente parece mais administrável do que uma vaga sensação de tristeza.
Pisando no freio para acelerar seu crescimento
Reenquadrar e nomear nossas emoções pode não representar uma rota de fuga para tudo o que sentimos, mas esse não é o objetivo principal. Ao ignorar as dificuldades ocasionadas por nossas emoções, perdemos oportunidades importantes de crescimento.
O objetivo da agilidade emocional é administrar e utilizar das emoções para avançar em nosso trabalho e em nossos relacionamentos. Apenas quando freamos as emoções que nos impedem de agir é que podemos começar a acelerar em direção àquilo que mais queremos.
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